Conferência das Partes da UNFCCC (COP 30)
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November 10, 2025 - November 21, 2025
- Belém, Brasil
06.11.2025 - Belem - The United Nations Climate Change Conference COP 30. Foto: Raimundo Pacco/COP30
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (ou COP) é o único espaço multilateral de tomada de decisões sobre mudanças climáticas no mundo. Todos os anos, líderes mundiais, negociadores e negociadoras dos Estados-membros que assinaram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) —bem como cientistas climáticos, organizações de trabalhadores e trabalhadoras, a sociedade civil, povos indígenas e o setor privado— reúnem-se para chegar a um acordo sobre ações para enfrentar a crise climática. Este ano marca a 30.ª reunião da Conferência das Partes (COP) da UNFCCC.
Esta COP está sendo chamada de conferência de adaptação e implementação. Conforme descrito na Oitava Carta da Presidência Brasileira da COP30: “… a COP30 deve ser a COP da adaptação. A ambição e a ação de adaptação serão fundamentais para avançarmos em Belém nas nossas três prioridades: (i) fortalecer o multilateralismo; (ii) conectar o regime climático à vida cotidiana das pessoas; e (iii) acelerar a implementação climática”.
No centro da ação climática e da implementação nos próximos anos estão as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) dos países —planos nacionais que delineiam ações de 2025 a 2035 para reduzir as emissões de gases de efeito estufa sob o Acordo de Paris. Antes da conferência, apenas 72 países tinham apresentado seus planos. Relatórios da ONU indicam que, juntos, as NDCs apresentadas cobrem cerca de 30% das emissões globais e ficam aquém do necessário para limitar o aquecimento global à meta acordada de 1,5 °C no âmbito do Acordo de Paris. Em Belém, os e as líderes precisarão discutir como lidar com esse déficit, e há grandes expectativas de que acordos significativos sobre financiamento para adaptação sejam um dos resultados da COP30.
O financiamento climático também estará no topo da agenda deste ano, dado que durante a COP29, os e as líderes mundiais concordaram em triplicar o financiamento climático para os países em desenvolvimento, de USD 100 para USD 300 bilhões anualmente até 2035, com a ambição de aumentar ainda mais esse montante para USD 1,3 trilhão por meio de fundos públicos e privados. Este ano, os e as líderes devem mostrar como irão colocar em prática este compromisso —conhecido oficialmente como Nova Meta Quantificada Coletiva de Financiamento Climático (ou NCQG).
E, finalmente, embora muitas outras questões sejam discutidas, a questão de como promover uma transição justa estará novamente em debate. Antes da COP30, os governos avançaram na definição do futuro do Programa de Trabalho sobre Transição Justa —uma iniciativa da UNFCCC estabelecida pela primeira vez durante a COP27, que visa garantir que a transição dos combustíveis fósseis seja justa, inclusiva e não deixe ninguém para trás. Embora o Programa tenha enfrentado desafios para avançar de forma significativa na COP29, as negociações deste ano poderão levar a uma decisão sobre o Mecanismo de Ação de Belém (BAM) proposto para a Transição Justa. O BAM forneceria uma entidade coordenadora e uma estrutura para os esforços de transição justa dentro do país por meio de recursos, compartilhamento de conhecimento e normas específicas, regras de financiamento e diretrizes técnicas.
O fato de a COP30 estar ocorrendo no coração da floresta amazônica —em Belém— é uma declaração poderosa. Em primeiro lugar, a região amazônica —que abrange nove países, sendo o Brasil o maior deles— é um dos sumidouros de carbono mais importantes do planeta. É o lar de uma biodiversidade extraordinária e de muitas comunidades indígenas que possuem conhecimentos e práticas cruciais para combater as mudanças climáticas. As organizações da sociedade civil têm a esperança de que o conhecimento das comunidades tradicionais e indígenas, bem como de outros grupos que contribuem para a mitigação das mudanças climáticas (como catadores e catadoras), seja mais reconhecido. Em segundo lugar, Belém é representativa da falta de investimento em saneamento urbano e infraestrutura para os moradores e moradoras urbanas de toda a região amazônica. A ação climática deve estar conectada às experiências vividas, e há uma necessidade urgente de financiamento climático que apoie as cidades e comunidades em desenvolvimento mais afetadas pelos impactos das mudanças climáticas.
A crise climática é uma questão trabalhista, econômica e urbana. E a transição para uma economia verde deve ser justa e inclusiva, sem deixar nenhum trabalhador nem trabalhadora para trás. Essa é uma transição justa.
As cidades são uma fonte desproporcional de emissões de CO2 e são particularmente afetadas por choques climáticos —ondas de calor, enchentes repentinas e secas— que, por sua vez, afetam o abastecimento de água, o saneamento, o transporte, o fornecimento de energia e outros serviços. A pesquisa da WIEGO mostra como esses choques prejudicam a saúde, a produtividade e a renda dos trabalhadores e das trabalhadoras, exacerbando a pobreza e a desigualdade. Embora desempenhem um papel crucial na redução da poluição e das emissões de carbono, os trabalhadores e as trabalhadoras do setor informal são frequentemente excluídos e excluídas de qualquer forma de apoio para lidar com as mudanças climáticas e, muitas vezes, pagam do próprio bolso os custos para se adaptar e lidar com elas. Em nível nacional, menos da metade dos planos de ação climática apresentados antes da COP30 mencionam a pobreza e os meios de subsistência entre suas prioridades de adaptação, enquanto em nível global, pesquisas da Aliança das Cidades mostram que apenas 3,5% de todo o financiamento dos fundos climáticos globais se concentra na população urbana pobre. A COP30 oferece uma oportunidade para destacar o papel interligado das cidades, nações e outros parceiros no apoio a uma transição justa, descarbonização e adaptação climática para os trabalhadores e as trabalhadoras do mundo.
Na COP30, a WIEGO compartilhará várias mensagens centrais:
11 de novembro: Promovendo abordagens lideradas pela comunidade e justiça climática no Relatório do IPCC sobre Mudanças Climáticas e Cidades – 11:30 – 13:00 na Sala de Eventos Paralelos 3 na Zona Azul
Este evento paralelo oficial da COP30 tem como objetivo explorar os impactos complexos das mudanças climáticas nas áreas urbanas, desde desafios ambientais e espaciais até consequências sociais e econômicas. Enquadrado em torno de temas-chave do próximo Relatório Especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) sobre Cidades e Mudanças Climáticas —incluindo adaptação, mitigação, perdas e danos, justiça climática, interseccionalidade e deslocamento induzido pelo clima—, o evento destacará exemplos concretos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, com ênfase especial em iniciativas lideradas pela comunidade e em produção de dados.
O evento é coorganizado pela Plataforma Global pelo Direito à Cidade, Habitat International Coalition, Mahila Housing Trust, Misereor, Pólis Institute, WIEGO, Youth for Unity and Voluntary Action (YUVA). Sonia Dias, da WIEGO, compartilhará pesquisas recentes do projeto Mudanças Climáticas e Economia Informal Urbana, que explora o impacto climático e a adaptação na economia informal.
11 de novembro: Catadores e Catadoras pelo Clima: Economia Circular e Mitigação – 11:15 – 13:00, no Auditório Uruçu, na Zona Verde
Adriana Glória Fonseca, catadora da cooperativa Concaves, em Belém, participará do evento para falar sobre o Sistema de Monitoramento Quase em Tempo Real da WIEGO, que acompanha o impacto das mudanças climáticas nas cooperativas de catadores e catadoras.
11 de novembro: Vozes femininas pela justiça climática, a importância da diversidade e igualdade de gênero – 17:30 – 18:45 no Pavilhão de Educação Superior para Ação Climática na Zona Azul
Neste evento organizado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), a contribuição da WIEGO se baseará em nosso projeto de gênero e resíduos e no papel das catadoras de resíduos na promoção da ação climática.
13 de novembro: Apresentação de resultados e soluções em destaque, “Painel sobre Economia Circular e Transição Justa” – Evento da Presidência da COP30 – 12:30 – 13:30 na Sala Temática do Eixo 4 na Zona Azul
O painel —coorganizado pela WIEGO e pela COP de Negócios Sustentáveis— explora como a economia circular e as estratégias de materiais podem reduzir as emissões e gerar empregos verdes por meio da inovação, do fortalecimento da regulamentação e do desenvolvimento inclusivo da força de trabalho, destacando o papel vital dos trabalhadores e das trabalhadoras no emprego informal para a construção de sistemas resilientes e de baixo carbono. As intervenções delinearão as prioridades da indústria e as perspectivas dos trabalhadores e das trabalhadoras para ampliar as iniciativas de economia circular.
Sonia Dias, da WIEGO, se juntará à Aliança Internacional de Catadores (Kabir Arora, Eva Molokoena e Severino Lima Junior), à Pimp My Carroça e ao Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (Suelen Ramos) para falar sobre os impactos climáticos sobre os catadores e as catadoras, a necessidade de políticas baseadas em evidências sobre mitigação climática, bem como a responsabilidade do setor privado de investir em infraestrutura de trabalho sensível ao clima. Os painelistas da Ambipar, PwC Brasil, Indorama Ventures, Tetrapak e Saint-Gobain compartilharão suas perspectivas da indústria.
13 de novembro: Promovendo a justiça climática por meio do direito ao desenvolvimento e da ação coletiva – 14:30 – 15:00, Zona Azul, sala a ser definida
Com base nos direitos humanos e no direito à cidade, a WIEGO fornecerá informações sobre mudanças climáticas, transição justa e por que os trabalhadores e as trabalhadoras da economia informal têm o direito de receber reconhecimento e inclusão nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, ou nos planos em nível nacional que visam reduzir as emissões do país e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas) e nos Países Menos Desenvolvidos (PMDs). O evento está sendo organizado pelo Secretariado de Direitos Humanos da ONU do Mecanismo Especializado sobre o Direito ao Desenvolvimento.
14 de novembro: Soluções e ação coletiva de pessoas que vivem e trabalham na informalidade para construir resiliência – 17:00 – 18:00, sala a ser definida
Um quinto da população mundial vive na informalidade e muitas pessoas mais trabalham na informalidade. Este evento apresentará soluções que estão disponíveis localmente e que se mostraram eficazes na construção da resiliência das pessoas, especialmente das mulheres, que vivem na informalidade. O evento se concentrará nas interseções entre assentamentos informais, trabalho informal, moradia acessível, erradicação da pobreza, construção de resiliência nas comunidades e entrega de soluções reais e empregos para pessoas reais. A WIEGO se unirá à campanha Roof Over Our Head (Um teto sobre nossas cabeças), aos membros do Grupo de Trabalho da Área de Parceria Nexus de Marrakech sobre Empoderamento das Pessoas, à Slum Dwellers International, ICLEI, TECHO, Habitat for Humanity International e Build Change para destacar como o financiamento climático e a melhoria da infraestrutura de trabalho podem aumentar a resiliência climática dos catadores e das catadoras e outros trabalhadores e trabalhadoras da economia informal.
16 de novembro: Mulheres da Amazônia: Moda, Design Circular e Audiovisual para a Agenda Climática Global e o Comércio Internacional – 14:00 a 16:00 no Parque da Residência
Neste evento, Sonia Dias da WIEGO discutirá a escalada dos resíduos na indústria da moda e como as estratégias de reutilização e reparo podem contribuir para a circularidade. A líder dos catadores e das catadoras Aline Souza compartilhará iniciativas tomadas pelos trabalhadores e pelas trabalhadoras para aumentar a circularidade nos resíduos têxteis. O evento contará com a participação da ONU Mulheres, ITC, Rede Katahirine e Brasil Eco Fashion.